domingo, 24 de junho de 2012

Ah Pessoa, aqui devo concordar absolutamente. Com as tuas, me poupou de palavras, assim as tomo,(e agora te uso como)doce menestrel, pelas quais a quase precisão ilustra tal momento. "Amei-te e por te amar Amei-te e por te amar Só a ti eu não via... Eras o céu e o mar, Eras a noite e o dia... Só quando te perdi É que eu te conheci... Quando te tinha diante Do meu olhar submerso Não eras minha amante... Eras o Universo... Agora que te não tenho, És só do teu tamanho. Estavas-me longe na alma, Por isso eu não te via... Presença em mim tão calma, Que eu a não sentia. Só quando meu ser te perdeu Vi que não eras eu. Não sei o que eras. Creio Que o meu modo de olhar, Meu sentir meu anseio Meu jeito de pensar... Eras minha alma, fora Do Lugar e da Hora... Hoje eu busco-te e choro Por te poder achar Não sequer te memoro Como te tive a amar... Nem foste um sonho meu... Porque te choro eu? Não sei... Perdi-te, e és hoje Real no [...] real... Como a hora que foge, Foges e tudo é igual A si-próprio e é tão triste O que vejo que existe. Em que és [...J fictício, Em que tempo parado Foste o (...) cilício Que quando em fé fechado Não sentia e hoje sinto Que acordo e não me minto... [...] tuas mãos, contudo, Sinto nas minhas mãos, Nosso olhar fixo e mudo Quantos momentos vãos Pra além de nós viveu Nem nosso, teu ou meu... Quantas vezes sentimos Alma nosso contacto Quantas vezes seguimos Pelo caminho abstracto Que vai entre alma e alma... Horas de inquieta calma! E hoje pergunto em mim Quem foi que amei, beijei Com quem perdi o fim Aos sonhos que sonhei... Procuro-te e nem vejo O meu próprio desejo... Que foi real em nós? Que houve em nós de sonho? De que Nós fomos de que voz O duplo eco risonho Que unidade tivemos? O que foi que perdemos? Nós não sonhámos. Eras Real e eu era real. Tuas mãos - tão sinceras... Meu gesto - tão leal... Tu e eu lado a lado... Isto... e isto acabado... Como houve em nós amor E deixou de o haver? Sei que hoje é vaga dor O que era então prazer... Mas não sei que passou Por nós e acordou... Amámo-nos deveras? Amamo-nos ainda? Se penso vejo que eras A mesma que és... E finda Tudo o que foi o amor; Assim quase sem dor. Sem dor... Um pasmo vago De ter havido amar... Quase que me embriago De mal poder pensar... O que mudou e onde? O que é que em nós se esconde? Talvez sintas como eu E não saibas sentil-o... Ser é ser nosso véu Amar é encobril-o, Hoje que te deixei É que sei que te amei... Somos a nossa bruma... É pra dentro que vemos... Caem-nos uma a uma As compreensões que temos E ficamos no frio Do Universo vazio... Que importa? Se o que foi Entre nós foi amor, Se por te amar me dói Já não te amar, e a dor Tem um íntimo sentido, Nada será perdido... E além de nós, no Agora Que não nos tem por véus Viveremos a Hora Virados para Deus E n´um(...) mudo Compreenderemos tudo."

Nenhum comentário:

Postar um comentário